Por Pedro Humangous
Os tempos de revista digital Hell
Divine me trouxeram grandes presentes ao longo dos cinco anos em que mantivemos
a publicação ativa. Uma delas foi ter conhecido o trabalho do Wael Daou. Não me
esqueço do dia em que uma pessoa entrou em contato comigo através da página da
revista no Facebook perguntando se podia enviar um CD de um amigo seu, que
morava em Belém do Pará. Achei aquilo incrível e como nunca negamos material de
ninguém, fiquei na expectativa aguardando chegar o tal álbum, sem sequer saber
do que se tratava. Para a minha surpresa, me deparei com o, até então,
desconhecido “Ancient Conquerors”. Um trabalho com seis músicas, todas voltadas
para as guitarras e para o instrumental, já demonstrando um músico
diferenciado, com boas ideias e um bom gosto enorme quando se tratava de
música, tanto na parte estética/visual, quanto o cuidado com a qualidade
sonora. Alguns anos se passaram e mantive um contato próximo com o Wael,
acompanhando de perto todas as fases de composição do novo material, dando
dicas, acompanhando as demos em primeira mão, a seleção dos músicos, a escolha
das artes, enfim, estive imerso em “Sand Crusader” desde seu embrião. E me dá
um orgulho enorme ter esse disco em mãos, um digipack triplo maravilhoso,
luxuoso, feito com o maior carinho e dedicação do mundo. No primeiro CD temos
sete músicas novas – iremos falar delas a seguir – no segundo CD temos novas e
melhoradas versões das músicas lançadas no “Ancient Conquerors” e o terceiro
disco é um DVD contendo as versões animadas de todas as faixas além de três
playthroughs animalescos! Todas das músicas ganharam uma arte exclusiva; todo o
material gráfico foi feito pelo renomado Gustavo Sazes, que deu um brilho a
mais nesse lançamento. Pra quem ainda não conhece o Wael Daou, estamos falando
de um guitarrista experiente, ultra técnico, com um senso de melodia apurado,
navega com facilidade pela música extrema, pelo prog, abusando de fortes
características da música Libanesa (sua descendência). As oito cordas usadas
por ele dão o peso necessário às composições, trazendo bastante agressividade,
sem deixar de lado as lindas partes mais leves e trabalhadas. Sim, seu foco
principal são obviamente as guitarras, dando bastante destaque ao instrumental,
mas não se engane achando que é só isso, “Sand Crusader” traz várias faixas com
vocais extremos, como são os casos de “Scourge Of Humanity” e “Thorns Of Joy”,
além de vocais limpos em “Sand Crusader”. A estrutura das músicas me remeteu a
várias coisas bem interessantes como The Haarp Machine, The Faceless, Jeff
Loomis, Dream Theater. A grande sacada do Wael foi misturar diversos momentos e
essências dentro de suas composições, dando mais dinâmica e empolgação a cada
nova audição. São tantos elementos, tantas notas, camadas de teclado, que são
necessárias várias audições para assimilar a proposta. Mesmo assim, trata-se de
um álbum de fácil digestão, é extremamente viciante e convidativo. Como
explicar, por exemplo, o clima tenso criado pelos sintetizadores e trompetes na
faixa “The Awakening I”? Uma energia sombria lembrando momentos de Dimmu
Borgir, Septicflesh e Behemoth, com uns solos inspiradíssimos lembrando a linha
de compor de John Petrucci – coisa de outro mundo! Wael Daou é nível internacional,
é fora do comum, é algo que todos precisam ouvir. Definitivamente é esse tipo
de maturidade que quero ver crescer no cenário da música pesada no Brasil, é o
tipo de som que buscava e finalmente tenho em mãos. Certamente um dos maiores
destaques do ano, top 5 fácil!
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