segunda-feira, 30 de abril de 2018

Review: Angra - Ømni



Por Pedro Humangous

Passaram apenas três anos desde a terceira revolução que o Angra sofreu, mas pareceu uma eternidade esse tempo que tivemos que esperar para um novo álbum de inéditas da banda. Passado o “susto” com a entrada do Fabio Lione, agora temos um grupo muito mais entrosado e coeso, focado no objetivo de construir novas canções, que tragam a evolução da banda sem perder a personalidade adquirida ao longo da carreira. Toda banda precisa da sua base de fãs, mas infelizmente, quando se atinge um nível mundial como o Angra, essa mesma base às vezes atrapalha. Temos as viúvas do André, viúvas do Edu, tem o pessoal que sente saudade do Aquiles, que reclama da ausência do Kiko e os haters do Lione. Esse é o novo Angra, você goste ou não. Se curte a fase antiga, simples, basta ouvir os discos daquela época, não precisa ficar na internet comentando que a banda morreu, etc. “Secret Garden” foi realmente bem diferente do que estávamos acostumados, mesmo assim foi um dos discos do ano pra mim. Um dos fatores que notei e gostei bastante é que a banda se atualizou e entendeu o momento que vivemos hoje, saindo daquele pedestal de artista famoso e descendo para falar com seus fãs. A melhor decisão que tiveram foi de documentar todo o processo de criação das músicas, do dia a dia na Suécia para a gravação com o Jens Bogren. Acertaram em cheio ao trazer as pessoas para perto da banda, respondendo os comentários nas redes sociais, fazendo piadas consigo mesmo – humanizaram o Angra! Acompanhei cada vídeo que era postado, me sentia envolvido no processo criativo e no fim ficava a sensação de que éramos amigos dos membros da banda. Tudo isso gerou uma expectativa enorme nos fãs. Quando o “Ømni” saiu, já estávamos familiarizados com os riffs, solos, alguns trechos vocais, etc. Foi muito mais fácil digerir as novas músicas quando foram lançadas. O Rafael Bittencourt falou que esse seria um elo entre todos os álbuns lançados pela banda anteriormente e, realmente, ele o faz, de forma sutil, porém perceptível. Dá pra sentir uns toques do “Holy Land”, “Rebirth”, “Temple Of Shadows”, “Secret Garden”. A faixa de abertura, “Light Of Trancendence” já começa remetendo à “Nova Era” (até levei um susto na primeira vez que ouvi), e é, sem dúvidas, uma das melhores músicas já feitas pelo Angra, simplesmente perfeita de ponta a ponta. Na sequência temos “Travelers Of Time” (que gerou muita polêmica quando o Lyric Video foi lançado), trazendo temperos de brasilidade na levada de bateria do Bruno Valverde, um toque bem progressivo nos riffs e inserções de teclado – me lembrou um pouco do que o Iron Maiden vem fazendo nos discos mais recentes. “Black Widow´s Web” também traz seu toque de polêmica por conta da presença da Sandy nos vocais limpos e sutis contrastando com o gutural (isso mesmo, Angra com vocal gutural!) da Alissa White-Gluz (Arch Enemy) – achei a ousadia sensacional e a música ficou ótima! “Insania” me trouxe de volta à álbuns como “Aqua” e “Aurora Consurgens”, um Melodic Metal mais “diretão”, com refrão pegajoso. “The Bottom Of My Soul” é toda cantada pelo Rafa e é uma bela semi-balada, transbordando bom gosto e muito feeling – podia muito bem estar em um novo disco de sua carreira solo. “War Horns” vem na sequência esbanjando técnica e velocidade, com destaque para as linhas de bateria e principalmente para o solo insano do Kiko Loureiro - isso sem falar no mini breakdown que fizeram na metade pro fim, lembrando o Sepultura atual. “Caveman” se mostra inusitada e diversificada, trazendo aquela energia do “Temple Of Shadows”, com uma quebra no ritmo dando espaço para lindas inserções de baixo e percussões. É preciso dizer que o Marcelo Barbosa é um monstro nas guitarras, trouxe mais peso e mais técnica aos solos, realmente um substituto/complemento à altura da banda. “Magic Mirror” traz mais experimentalismos, mudanças de vocais e passagens viajantes, mas tudo sem perder o jeito Angra de ser. A balada “Always More”, apesar de simples, é belíssima, mostrando todo o poder e versatilidade do Fabio. O real desafio vem em “Silence Inside”, com mais de oito minutos de duração, é uma verdadeira jornada, uma montanha russa de sensações, alternâncias de tempos, ritmos, vocais, você simplesmente não sabe o que esperar do minuto seguinte – simplesmente brilhante! E fechando o disco, temos a maravilhosa “Infinite Nothing”, toda instrumental em forma de orquestra, trazendo de volta os temas de “Ømni”. Se tivesse que resumir esse álbum, diria que é um trabalho empolgante do começo ao fim, com toques de loucura e genialidade, mostrando um Angra maduro e rejuvenescido ao mesmo tempo. Um dos melhores álbuns na discografia da banda, resumindo toda sua história em um novo capítulo. Fico feliz com o que nos apresentaram e ansioso pelo que ainda está por vir!



Acompanhe a banda no Youtube: https://www.youtube.com/user/AngraChannel
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