domingo, 22 de outubro de 2017

Review: Thy Art Is Murder – Dear Desolation


Por Pedro Humangous

Tudo o que faz sucesso demais, em um curto espaço de tempo, tende a ter dois lados de uma moeda: os adoradores e os detratores. Infelizmente é assim mesmo e, normalmente, tomamos um dos lados com certa facilidade e frequência. Em resenhas anteriores já abordei o tema “Deathcore”, seu surgimento, seu sucesso meteórico e sua decadência. Atualmente vivenciamos sua queda, sua mutação em busca de um novo reconhecimento, um respiro de ar puro nessa névoa intoxicada pela mesmice sonora de tantas bandas mundo afora. Vindo da Austrália, o Thy Art Is Murder surgiu em 2006, trazendo em sua bagagem dois EPs e três álbuns completos. “Dear Desolation” é o quarto disco em sua carreira, lançado pela Nuclear Blast em parceria com a Shinigami Records. Pra começar, já somos impactados com a belíssima arte que ilustra a capa, créditos para um dos melhores artistas da atualidade, Eliran Kantor (já trabalhou com bandas como Soulfly, Testament, Sodom, Hate Eternal, Kataklysm, entre tantas outras). Apesar da aparente simplicidade nos elementos da capa, a arte diz muita coisa e está diretamente conectada à parte lírica do álbum. Falando um pouco sobre as letras, a banda tem um lado mais negativo para abordar os temas, muito ligados à crítica contra as religiões, caos, morte, decadência do homem, etc. A sonoridade variou bastante em relação aos trabalhos anteriores, mas ainda continua com os dois pés fincados no Deathcore – o que pode ser bom para alguns e extremamente cansativo para outros. Eu dividiria esse disco em duas partes exatas, sendo as primeiras cinco faixas incrivelmente boas, variadas, agressivas e interessantes, e as cinco últimas mais chatinhas, despretensiosas e maçantes. “Slaves Beyond Death” abre o álbum em alto nível, com riffs que mais parecem uma bomba atômica, uma bateria veloz, técnica e variada, e vocais avassaladores. O som da bateria me surpreendeu bastante, muito bem captado e mixado. As vozes ganham dinâmica pela variação entre os guturais fechados, abertos, rasgados e constantemente dobrados. A mixagem e produção no geral ficaram medianas, pois deixaram o som um pouco mecânico, sem muita vida. “The Son Of Misery”, uma das melhores, lembrou uma mistura entre o som do Project 46 com algo do Behemoth mais atual. Aliás, o Thy Art Is Murder bebe nessa fonte do Black Metal mais moderno com o Groove de bandas como Lamb Of God. Os breakdowns estão espalhados por toda a parte, mas inseridos de forma inteligente, evitando fazer com que essa manjada artimanha seja usada de forma gratuita e/ou banal. A segunda metade do álbum vai perdendo um pouco da força e acaba tornado tarefa difícil acompanhar a audição sem perder o foco. As composições acabam caindo na armadilha da mesmice, soando como 99% das bandas que se arriscam por esse estilo e acabam passando despercebidas. Não é que as músicas sejam ruins, apenas estão bem abaixo do esperado ou quando comparadas à primeira metade desse mesmo disco. “Dear Desolation” é um avanço na carreira dos australianos e certamente ganha destaque em relação aos demais do mesmo estilo, mesmo não fugindo tanto dos clichês. Talvez um balanço melhor entre as faixas, uma produção mais orgânica e uma ousadia maior nas composições, possa elevar ainda mais o Thy Art Is Murder no cenário mundial. De toda forma, vale bastante a audição, recomendo!


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