Por Pedro Humangous
Ah esse Metal brasileiro que não
cansa de nos surpreender...! Quem é o louco que diz que as bandas daqui são
inferiores ou não prestam? Com essa facilidade tecnológica atual, muitas bandas
renegadas às garagens e estúdios locais, hoje podem gravar um disco de alta
qualidade e atingir um público mais amplo na internet e consequentemente em
seus futuros shows. Confesso que não tinha ouvido falar ainda do Lottors e não
sabia o que esperar ao ver essa belíssima arte que ilustra a capa (méritos para
Carlos Fides da Artside). E sinceramente, ao colocar o disco pra rodar,
continuava sem saber o que esperar de cada segundo que ia sendo apresentado. Uma
mistura incrível de estilos e experimentalismos transborda o caldeirão
intitulado “Mirage”. Temos aqui um Prog Metal recheado de guitarras de sete cordas (ou
oito, não sei), partes mais agressivas e extremas, com quebras de tempo
insanas e um vocal que parece ter saído de um manicômio. Notamos também uma
forte influência desse mais recente gênero chamado Djent, misturado com linhas
vocais que variam entre o gutural e o limpo num estilo Mike Patton (Faith No More). Resumindo,
o negócio é loucura total, imprevisível e constantemente interessante. O mais
incrível é que todo esse som é feito por um trio, formado por João Augusto
(baixo e vocais), David Schilckmann (guitarras) e Julio Duarte (bateria). O
timbre das guitarras é animal, bem como o bom gosto na construção dos solos que
invadem as músicas sem aviso prévio. A bateria também está nervosa e
desafiadora, seguida de perto pelas linhas criativas e encorpadas do baixo. O
vocal é bastante versátil, mas as vezes peca por experimentar demais e acaba
soando estranho em alguns momentos como na faixa “Broken Bird”. O álbum é
recheado de vinhetas entre as músicas, gerando um clima interessante na audição
completa do trabalho – no total são 14 faixas e quase uma hora de música.
Minhas favoritas são “Pot Of Greed” e “Whar
I Left To Bleed”, ambas extremamente complexas e diversificadas, creio que são
as que melhor definem a proposta do Lottors. O instrumental me deixou de queixo
caído, eu só recomendaria uma leve melhorada nas partes limpas do vocal e quem
sabe experimentar uns guturais mais fechados, iriam contrastar muito bem com os
mais rasgados e abertos. Definitivamente uma das revelações nacionais do ano!
Ouça! Nota: 9,0
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