Notas Introdutórias:
Nunca é fácil
dissertar sobre Black Metal sem cair em tópicos clichês, sem dissecar ainda
mais o que já foi explorado várias vezes ou – principalmente – aborrecer o
leitor com a sensação de “esse assunto de
novo?”. Isso é normal, afinal o
Black Metal já foi tema em diversos documentários, textos, entrevistas e tabloides
ridículos e sensacionalistas - mostrando o “outro lado da moeda” através dos
olhos da sociedade cristã. Portanto, apesar de, infelizmente, eu não poder
evitar por completo esses temas, vou procurar ser o mais breve possível e não
ficar inutilmente salientando fatos que todos nós já estamos de cheios de
ouvir. Nada sobre a morte de Euronymous aqui.
Xenofobia, Traição,
“Homofobia” e Radicalismo – O Atual Underground Brasileiro:
Uma guerra está se
desencadeando entre irmãos, dentro de um exército de guerreiros em comum, entre
aqueles que levam consigo o mesmo pavilhão. Como se não bastassem os problemas de sempre
com os cristãos, a sociedade fútil, consumista, capitalista e o governo podre e
corrupto que temos, o Black Metal agora enfrenta “fogo amigo”, onde um recente
ato estúpido está virando “moda” dentro do underground brasileiro. Esse é o motivo dessa dissertação. Esse é o motivo
de eu, mais uma vez, ter que voltar a bater nas mesmas velhas e empoeiradas
teclas – não mais do que o necessário, ao menos. De repente uma explosão de ódio contra a cena
estrangeira de Black Metal surgiu entre os brasileiros. E isso devido a atitudes recentes de bandas
ou músicos em particular.
Claro, obviamente
eu sou um entusiasta convicto e um fanático pela cena brasileira. Eu estou
sempre apto a ajudar as nossas hordas que, além de fazerem um trabalho
fantástico – de fato muitas vezes superior a diversos trabalhos estrangeiros –
são pessoas humildes e grandes amigos. E qualquer um que assista um evento de
Black Metal sabe que eu não exagero ou digo asneiras, pois temos centenas e
mais centenas de hordas que fazem trabalhos de cair o queixo, sendo uma das
poucas coisas – senão a única – que me dão orgulho de pertencer a essa piada de
nação.
Ocultan, Frozen
Aeon, Luxúria de Lillith, Patria, Eternal Sacrifice, Mysteriis, Impacto
Profano, Imperium Infernale, Luvart, Hecate e Dark Malediction são apenas
alguns exemplos da grande riqueza da nossa música voltada ao Black Metal. Deduzindo que as minhas palavras anteriores tenham
sido suficientemente claras para fazer o leitor entender que eu incentivo o
apoio às nossas bandas e que eu estou criticando uma atitude – e não a cena – que
está partindo mais de fãs que dos músicos, devo agora explicar o que de fato
está acontecendo e o que desencadeou essa revolta por parte de algumas pessoas.
Alguns recentes
acontecimentos – não exatamente novos, mas que andam repercutindo bastante no
Facebook – estão causando revolta em alguns fãs do gênero. Pela lógica eles estão certos, já outros que
se dizem mais “mente aberta” e “descolados” (eu particularmente classifico
essas pessoas como tendo “excesso de felicidade”, e acreditem, isso é uma
classificação pejorativa...) vão dizer que isso é coisa de “tr00” idiota, mas
isso não vem ao caso. O fato é que
ultimamente muitas bandas estrangeiras estão tendo atitudes imbecis, cretinas e
isso vem ajudando a denegrir a moral da cena que, ao julgar pelo tanto de
paginazinhas estúpidas de humor, já está bem baixa.
O Nergal, por
exemplo, foi uma pessoa que após ganhar um grande respeito ao ser processado
por rasgar uma bíblia durante um show, escarrou nesse mesmo respeito ao tomar
outras atitudes, como revelar ter um amiguinho padre e aceitar ser um jurado no
programa Ídolos na Polônia – um programa muito estúpido e feito para povão,
equivalente ao Ídolos que temos aqui. Felizmente eu nunca fui muito fã da
banda, e consegui me desfazer com facilidade dos únicos dois álbuns do Behemoth
que eu tinha aqui após saber dessas coisas.
Também não podemos de
nos esquecer de Jan Axel Blomberg ou Hellhammer – se ainda existe alguém nesse
“meio” que não sabe quem é ele, ele é ninguém menos que o baterista do Mayhem –
gravando as baterias para uma banda cristã! Muitos em defesa dele argumentaram
que ele foi pago para isso, que ele não fez de graça. De fato ele foi. Mas sabe o que eu acho
engraçado? O Black Metal não foi um movimento criado unicamente para ser
anticristão, mas também para se revoltar contra o mundo “comum” – isto é, o
mundo fútil, ordinário e capitalista. Os músicos de Black Metal não são apenas
mais um bando de rockstars estúpidos que resumem sua vida a ganhar dinheiro,
transar com tiétes e beber e se drogar até morrer. Há uma grande ideologia e
filosofia por trás desse gênero – compreendida e apreciada por poucos – e se um
sujeito anticristão que diz ser contra o capitalismo se sujeita a servir o seu
pior inimigo em troca de pagamento, ele certamente merece ser execrado por ser
tão incoerente e ter tanta falta de amor próprio. E não se preocupe você não
precisa se matar porque acabou de comprar um vinil importado do Deathcrush e
descobriu isso agora. Afinal a crítica não é contra o Mayhem, mas sim contra o
babaca do Hellhammer. Não vou condenar uma banda inteira por causa da atitude
de um sujeito. E não adianta vocês me xingarem e dizer “Ele também precisa
comer, ele também tem contas a pagar, blá blá blá”. Ora, por favor! Depois do
“Boom” do Inner Circle na década de 90 vocês realmente acham que o baterista do
Mayhem precisa se submeter a isso para ganhar uns trocados? Sejam mais sensatos!
[Nota: Eu não vou
usar este espaço para ser professor de nenhum “trevoso calouro”. Se você não
faz a mínima ideia do eu falei quando me referi à ideologia e filosofia do
Black Metal eu recomendo que assista os documentários Pure Fucking Mayhem, Once
Upon A Time In Norway e Until The Light Takes Us. Ler a biografia do Burzum
também é uma ótima ideia – ela está traduzida por completo no site do Whiplash!]
Não é preciso
pensar muito para considerar os casos de Nergal e Hellhammer como atos de
extrema traição contra os próprios ideais, mas há ainda outro fator que anda perturbando
muitas pessoas na cena, e é claro que eu estou falando do homossexualismo, que
começou especificamente quando Ghaal, do Gorgoroth declarou ser homossexual.
Recentemente uma
foto de Niklas Kvarforth – da banda Shinning – beijando um homem na boca
durante uma apresentação ao vivo causou certa polêmica entre o pessoal do Black
Metal – novamente no Facebook. Não são fatos exatamente novos, mas ainda estão
“circulando” no momento. De fato não há uma atitude abertamente homofóbica no
Black Metal e tecnicamente atos homossexuais são uma forma de blasfemar contra
deus. Você deve estar pensando “Então qual é a porra do problema?”. O problema é que quando as pessoas vão atrás
do Black Metal elas querem encontrar algo extremo, algo maligno, brutal, perturbador;
algo muito “de macho”, por assim dizer, e atos homossexuais nesse meio soam
como um desrespeito a tudo o que o Black Metal representa para elas, mesmo que
o músico seja sério, excelente e não traga sua vida particular para dentro da
cena. Eu mesmo não tenho nada contra homossexuais, muito menos contra o Ghaal –
apesar de não gostar de Gorgoroth – mas o que acaba acontecendo é que, depois
que tal coisa é descoberta o “encanto se quebra”; não é a mesma coisa e o
sujeito passa a ser visto como mais um traidor, mais um que se diz muito
maligno e na verdade é o oposto. Em outras palavras, quando alguém fica sabendo
de alguma “merda” dentro do Black Metal, essa pessoa está esperando algo
relacionado a assassinatos, suicídios, incêndios criminosos de igrejas, uso de
drogas e outras coisas similares, e não beijos, sexo oral ou “treinamento de
cu” ao vivo entre dois machos... Eles não precisam expressar sua opção sexual
durante um show.
O homossexualismo
ainda está ligado com a visão de fragilidade, exuberância, alegria e tudo mais
que o Black Metal não possui. Portanto, não se trata necessariamente de
homofobia, mas de uma visão que não combina e que soa desrespeitoso com o gênero
que muitas pessoas levam realmente a sério, principalmente aqui no Brasil – mas
cá entre nós, a foto do beijo foi uma bosta mesmo...
Você não pode
culpar uma pessoa que procura um sentido extremo para a sua vida e, de repente,
se depara com tantos falsos tendo atitudes que contrariam tudo o que eles dizem
representar e acreditar – e eu vivo dizendo; incoerência foi algo que sempre me
revoltou.
Conclusão:
Obviamente vocês
notaram que tudo o que eu disse até agora apenas explicou - e de certa forma
justificou - a revolta de algumas pessoas em relação à cena estrangeira de
Black Metal, mas não deixei claro o que eu condeno em tudo isso – sendo que até
agora eu, na verdade, apenas concordei com os tópicos. O que eu condeno é simplesmente a
generalização.
Eu apoio veementemente
que todo falso seja execrado da cena, pois somente quem está de fato ligado ao
Black Metal sabe o quanto as pessoas que fazem parte dele levam isso a sério, e
não precisamos de mais motivos para sermos alvos de piadinhas estúpidas de
rockeirinhos/headbangers ordinários do mainstream. Mas como eu disse, o que não
podemos fazer é generalizar. A maioria das bandas estrangeiras leva isso tão a
sério quanto nós, e também faz um ótimo trabalho. Eu adoro ouvir Ocultan, por
exemplo, mas não deixo jamais de ouvir meus álbuns do Burzum. Sem falar que é muita hipocrisia você
idolatrar uma horda brasileira e detestar de modo generalizado as estrangeiras,
pois elas normalmente são os ídolos dos seus ídolos, ou seja, a maioria dos
músicos de Black Metal do Brasil possuem
muitas inspirações do exterior – por exemplo, conheço um grande músico da cena
que é tão fã de Burzum quanto eu.
E tudo o que foi
dito aqui não é papo de “tr00”, é apenas uma opinião sincera de alguém – que
assim como muitos – admira um gênero musical em seu todo e o leva a sério.
Afinal não faz sentido ser “tr00”, pois nem mesmo seus criadores eram “tr00”. E
além disso, aos olhos destes, nós cultuamos um experimento musical
“fracassado”, que foi criado para não ser parte do mundo moderno. Acontece que
após os problemas na Noruega a mídia ordinária acabou tomando conhecimento do
Black Metal e ele foi “absorvido” na esfera capitalista do mundo. Uma prova
desse “fracasso” foi que muitas bandas – como o Ulver – mudaram seus gêneros
musicais após o fim do Inner Circle, deixando o Black Metal para trás.
[Nota: Quando eu
disse “os criadores”, estava sim me referindo à cena norueguesa de Black Metal,
pois apesar deles não terem sido de fato as primeiras bandas do gênero, foram
bandas como Burzum e Darkthrone que lapidaram a “fórmula definitiva” que todos
nós conhecemos hoje. A cena norueguesa é, sem dúvida alguma, mater omnium. Isso só deixa evidente de
como é estúpida e hipócrita essa repulsa generalizada pelas hordas estrangeiras
por causa de meia dúzia de otários que resolveram foder com tudo].
Bônus – Um comentário
pessoal sobre o “Caso Antestor”:
Eu certamente não
poderia deixar de me pronunciar em relação à revolta que o pessoal do Black
Metal teve quando a banda de White Metal Antestor veio fazer sua turnê no
Brasil. Alguns poucos – incluindo eu – apoiaram a revolta, mas a maioria
condenou tal ato. E eu não estou falando de cristãos, mas sim de alguns “fãs” de
Black Metal que condenaram a turma que protestou contra a presença desses cristãos
idiotas em Minas Gerais. É óbvio que eu
apoiei o protesto, pois antes de tudo tenho motivos religiosos para ser contra
os cristãos – que além de tudo deixam claro o quanto são patéticos ao não
poderem criar a própria religião – ou seja, o cristianismo – sem clonar e
plagiar os costumes e deuses pagãos – alguém ai disse Hórus? – mostrando que também são incapazes de terem
uma identidade própria na música ao copiar o Black Metal descaradamente, apenas
alterando a letra e a mensagem.
Eu acho muito
engraçado esses “malignos” da cena, e são em casos assim que cada um mostra o
que realmente é, e o quanto acredita no que diz acreditar. Muitos
“rockeirinhos” são estereotípicos, e adoram dizer ou pensar coisas como “Nossa
como eu sou do mal!”, “Estou vestindo preto, estou chocando e isso é muito
legal”, “Fiquei excitado quando a velhinha olhou para o meu pentagrama e se
assustou”, mas quando as pessoas resolvem levar algo realmente a sério esses
mesmos “seres malignos” se tornam os maiores filantropos, demagogos e
moralistas que o mundo já viu, mostrando sua completa hipocrisia e estupidez. Ai
então esse mesmo pessoal começa a maratona de verborragias usando seus típicos
xingamentos “crianças, idiotas, imaturos, etc.” e dando os seus “esporros” como
“Vocês poderiam ter matado alguém!”, “Eles também são seres humanos!”, “Isso
não faz bem para a nossa cena!”, e outros mais. Mas, em primeiro lugar, eles
são cristãos e creio que todos se lembram de algo chamado “Inquisição” ou
“Idade das Trevas” onde os religiosos mataram milhares de pessoas inocentes
somente porque elas não acreditavam naquele livro estúpido chamado de bíblia.
Os cristãos não
tiveram respeito pelas outras religiões e nem pelas outras culturas, tampouco
pelas vidas dos “hereges” a quem eles queimaram vivos. Logo, não tenho nenhuma
piedade deles, e se um cristão morresse ali naquela manifestação eu certamente
acharia ótimo. Mas foi uma manifestação pacífica, então eu duvido muito que isso
chegasse a acontecer; mas mesmo assim ela foi tratada como uma guerrilha pelo
nível de sensacionalismo, como se o pessoal do Black Metal tivesse aparecido lá
com granadas e fuzis automáticos. Pois é, ótima oportunidade para bancar o
demagogo, chamar a atenção e discriminar esses “cabeludos horrorosos que não
acreditam em jesus...”, e o pior de tudo é que os próprios cabeludos ajudaram a
disseminar esse preconceito que sempre perseguiu o pessoal “do rock” nesse país
do caralho. É engraçado como manifestações
muito mais violentas, que normalmente acabam em feridos e talvez até mortos
sempre sejam aceitas de forma mais tolerante pela mídia e pela população – mas
como se tratavam de “satanistas loucos que não assistem novela, BBB e possuem
inteligência o suficiente para serem um incômodo ao governo corrupto do Brasil”
é claro que precisamos execrá-los com tudo o que temos, não é?
Muitos usaram o
argumento de que “isso não faria bem para a nossa cena lá fora”. Agora siga essa simples linha de raciocínio: o
que os manifestantes fizeram? Simplesmente mostraram do que se trata o Black
Metal e reagiram negativamente contra um inimigo em comum, um inimigo que o
Black Metal “combate”, certo? Se alguma banda do exterior ficar sabendo do que
houve aqui e criticar isso de forma negativa, isso significa que eles não são
Black Metal de verdade, e sim mais falsos que dizem crer em uma ideologia mas
agem de forma totalmente diferente, contrariando a mesma. Logo, essa
manifestação não tem como ser negativa para a nossa cena, e sim positiva!
Afinal quem vai querer esses hipócritas aqui? E ainda mais sustentá-los a base
de shows com o seu suado dinheiro? Como
eu disse: são nessas horas que vemos quem é quem, e se alguma banda do exterior
reagiu negativamente, se “revelando” dessa forma, por mim eles podem ficar por
lá. Hipócritas não fazem falta aqui, pois aqui já temos problemas demais para
lidar.
Eu creio ter dito
tudo o que eu precisava sobre essa “situação”. Se você não quer ajudar a levar
as coisas a sério para não ter problemas com a lei, tudo bem. Mas ao menos nos
poupe de hipocrisia, incoerência, moralismo, demagogia e filantropia. Não perca
o seu tempo com a bunda atrás do computador para fazer todo esse choramingo
enquanto diz ser um “misantropo seguidor de Satanás”. Afinal esse país está se tornando cada vez
mais religioso, cada vez mais cristão. Basicamente já estamos vivendo o que as
pessoas estão chamando de “Jesuscracia”, e uma nova “Inquisição” pode surgir
tranquilamente nessas circunstâncias. Então não critique os atos dos outros
como se você fosse o senhor da verdade, pois você pode a vir a praticar esses
mesmos atos para sobreviver caso a situação “crentelha” do país aperte ainda
mais – e tenho certeza que irá...
Créditos:
Textos e Imagens –
Yuri Azaghal.
Revisão – Marcos Garcia e Mochlath Lux.
Revisão – Marcos Garcia e Mochlath Lux.
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