sexta-feira, 25 de maio de 2012

Entrevista: Psychotic Eyes - O sorriso por trás da máscara




Hell Divine - Já faz alguns meses que lançaram o disco “I Only Smile Behind the Mask”. Já deu para ter uma noção do feedback por parte de fãs e crítica?

Dimitri Brandi - A resposta dos fãs e da crítica tem sido sensacional, estamos muito surpresos e orgulhosos. Fomos mencionados entre os melhores do ano de 2011 por várias publicações. Até sites que não são especializados em metal deram destaque para o disco. Os fãs também têm comentado que é nosso melhor trabalho, o que é muito legal de ouvir depois de treze anos de banda. Mostra que não nos acomodamos com as dificuldades, que não são poucas, de manter uma banda underground no Brasil. E que ainda temos energia para brigar pelo metal e continuar fazendo boa música. Eu também acho que “I Only Smile Behind the Mask” é nosso melhor trabalho, mas espero que o próximo seja ainda melhor.

Hell Divine - Qual, na opinião de vocês, é a música que melhor representa a Psychotic Eyes nesse álbum?

Dimitri - Credo, que pergunta difícil (risos). Não me peça para dizer de qual eu gosto mais (risos). Na verdade, cada membro da banda tem a sua preferida. A minha é a “The Girl”, mas o resto da banda discorda.  Estamos usando a “Throwing into Chaos” como cartão de visitas, ela saiu em várias coletâneas, como a Faces of Hate e na própria coletânea da Hell Divine. É uma música feita para pegar o ouvinte logo de cara, com a introdução brutal de bateria e aqueles riffs meio Grave Digger, meio heavy clássico na estrofe. Já a “Dying Grief”, preferida do Alexandre (Tamarossi, baterista), tem riffs meio diferentes, algo que é bem característico da banda, uma levada totalmente thrash e uma parte climática, ritmada e progressiva no meio, antes do solo. Aliás, no solo eu me inspirei no Neal Schon, guitarrista do Journey. Acho que é um influência muito inusitada para um guitarrista de Death Metal, não?

Hell Divine - O material foi lançado somente virtualmente, o que provoca indignação, tamanha a qualidade do grupo. Ainda não houve algum selo que se interessasse por lançar o disco físico? Algum passo já foi tomado, nesse sentido?

Dimitri -
Absolutamente ninguém se interessou, cara. Digo pelo Brasil, pois o álbum ainda não foi divulgado no exterior. Torço para que algum selo de fora se interesse. O mercado musical no Brasil está muito complicado, temos que reconhecer que a venda de CDs em geral caiu muito. E o fã de metal não compra mais CDs de bandas brasileiras. Não adianta lançar um disco que ninguém vai comprar. O custo de prensagem e distribuição ainda é muito alto. Eu fico extremamente triste, pois sou um colecionador de CDs e queria muito ver “I Only Smile Behind the Mask” prensado, com um encarte legal, igual fizemos no primeiro CD, que foi lançado com um encarte super trabalhado, com a tradução de todas as letras, com imagens escolhidas para cada faixa. Mas nem isso impulsionou a venda do disco, a galera prefere baixar mesmo. O que não nos incomoda, pois preferimos que a nossa música atinja o máximo possível de pessoas, já que não temos a pretensão nem a ilusão de que vamos ganhar dinheiro com a banda. O álbum novo já foi muito mais baixado do que o primeiro foi vendido, o que mostra que tomamos a decisão correta, pois nossa música está se espalhando com muito mais facilidade, e isso é o mais importante.


Hell Divine - O som de vocês é, desde o primeiro disco, uma mescla de Metal extremo calcada no Death. Concordam com isso? E vocês vão além e conseguem fazer um som original. Por favor, falem sobre isso. É uma “lei” ou o resultado é natural?

Dimitri - Não é uma “lei”, no sentido de ser uma imposição. Sai naturalmente, acho que esse é o som do Psychotic Eyes, é o som que sempre nos inspirou. Quando começamos a banda queríamos tocar exatamente isso: algo entre o thrash e o death, com influências variadas. Eu sempre compus riffs mais voltados pro heavy tradicional, então foi fácil encaixar essas influências num contexto mais extremo. O Alexandre também sempre foi um baterista muito rápido, com um domínio incrível do pedal duplo e viradas na velocidade da luz. Além disso, sempre tivemos a sorte de contar com baixistas meio doidos que gostam de linhas de baixo marcantes. E o Douglas (Gatuso, baixista) é o melhor de todos nesse quesito, além de ser o melhor baixista que já passou pela banda ele é o que melhor encarnou esse espírito “progressivo”. Essa soma toda define o que é o som do Psychotic Eyes, então acaba saindo tudo muito naturalmente.

Hell Divine - Uma marca registrada da banda é a forte ligação com a literatura. Como exemplos, existem as faixas “The Humachine”, inspirada no livro “O Diabólico Cérebro Eletrônico”, e “The Girl”, inspirada em “Geni e o Zepelim”. Já estão pensando em alguma outra obra para futuros trabalhos?

Dimitri - Ainda não começamos a trabalhar nas letras do próximo trabalho. Mas já surgiram algumas idéias. Um filme que nos marcou muito é o “Man from Earth”, provavelmente vamos trabalhar algo sobre ele no próximo disco. Tenho lido também muita coisa sobre neurociência, estruturas do pensamento e a relação entre ciência, religião e psicologia. Com certeza esse tema vai ganhar pelo menos uma letra. Obviamente não vou deixar a ficção científica de lado, é o meu estilo literário favorito. A “The Humachine” é inspirada num livro do David Gerrold, roteirista de vários episódios de Star Trek, chamado “O diabólico cérebro eletrônico”. Eu gostaria de trabalhar obras de outros autores, Robert E. Heinlein, quem sabe. Um dos meus autores preferidos é o Orson Scott Card, roteirista do “Segredo do Abismo”, cuja série “Seventh Son” inspirou um certo álbum do Iron Maiden (risos). Mas isso ainda são idéias, como te disse, as letras do próximo álbum ainda não existem. Outra idéia é trabalhar mais frases em português, pois achei que isso funcionou muito bem nos versos finais de “Welcome Fatality”, primeira vez que cantei algo na nossa língua.

Hell Divine - E quando sai o clipe de “Throwing into Chaos”? Às quantas anda o material?

Dimitri - Ainda estamos pensando no roteiro do clipe. Já lançamos dois vídeos no Youtube, para “Celebrate the Blood” e “Carnage is My Name”, as duas do primeiro CD. O clipe da “Carnage” foi gravado ao vivo, no show que organizamos em Guraulhos/SP para comemorar os dez anos da banda. Ficou um resultado muito legal, pois o Alex Nasser (produtor do primeiro álbum) levou toda a parafernália de gravação e captou o áudio do show como se fosse a gravação de um álbum. Muita gente comenta que o som nem parece ao vivo. Mas desta vez queremos fazer um vídeo diferente do normal do underground brasileiro. Não queremos só mostrar a banda tocando, queremos um clipe de verdade, com história e atores. Isso encarece o investimento e acaba demandando mais planejamento. A letra da música merece, é uma obra fantástica do Adriano Villa, grande poeta e escritor.


Hell Divine - Letras e instrumental têm pesos equivalentes na Psychotic Eyes ou vocês priorizam um dos dois?

Dimitri - As letras são importantes, eu me dedico muito a elas quando estamos preparando o material. Penso em cada palavra e faço várias mudanças, às vezes na hora do “gravando”. Mas eu estaria te enganando se não dissesse que o instrumental é mais importante. Mais até que os vocais. Ficamos meses debruçados nos detalhes, às vezes anos (risos). Outras vezes o arranjo sai mais espontâneo, houve várias músicas compostas nos ensaios.  Mas a gente acaba sendo meio perfeccionista, gostamos de transcrever as partituras das músicas, analisar cada compasso, testar tonalidades diferentes. Até as linhas de bateria que o Alexandre compõe ele gosta de transcrever, não sei como ele tem tanta disposição! A primeira vez que ele me mostrou uma partitura de bateria eu achei que ele era louco (risos), mas é impressionante como isso facilita o processo de composição e de gravação.

Hell Divine - Valeu pela entrevista! O espaço é de vocês.
Dimitri - Eu que agradeço pelo espaço, Christiano! O trabalho da Hell Divine em prol do metal extremo brasileiro é sensacional. Dá gosto ver que a imprensa underground está evoluindo bastante, com gente como você, que gosta de pesquisar e apoiar a música extrema feita no Brasil, sem perder o profissionalismo. Espero que os leitores da revista baixem, ouçam e comentem o nosso “I Only Smile Behind the Mask”. Afinal, da mesma forma que a revista, ele é virtual e gratuito!

Entrevista por Christiano K.O.D.A.

Baixe “I Only Smile Behind The Mask” do Psychotic Eyes gratuitamente:
http://psychoticeyesbrazil.blogspot.com.br/p/downloads_27.html


Um comentário:

  1. Muito boa a entrevista. O trabalho da Psychotic Eyes é muito bom mesmo. Tive o prazer de fazer um programa de quase três horas com o Dimitri para a minha rádio, a KFK Webradio. longa vida ao Blog e a banda!

    ResponderExcluir