Como todo lançamento do Angra, muita expectativa é criada em torno de um novo álbum da banda. E com “Cycles Of Pain” não foi diferente, acompanhei os reports do estúdio disponibilizado pela banda no Youtube periodicamente. Pelos vídeos senti que o clima estava bom, os membros mais calmos, mais maduros – e até mais sérios – bem diferente dos reports dos álbuns anteriores, onde as piadinhas tomavam conta. E será que esse clima afetou as composições? Eu diria que sim.
Ouvindo as novas músicas, senti um clima mais pesado, mais sombrio, ainda mais prog e moderno. É notório que atualmente as bandas têm usado mais peso nas gravações, guitarras cada vez com mais cordas. E aqui temos a mesma situação – acredito que muito se deve à influência do Andreoli nas composições de guitarra – um peso absurdo, afinação baixa. Combina com o Angra? Com o antigo não, mas com a proposta atual, sim.
Para início de conversa, adorei a escolha da arte da capa, vívida, cheia de easter eggs remetendo à álbuns anteriores, bela sacada. Após uma rápida intro, “Cyclus Doloris” (que lembra muito as boas introduções da época de “Rebirth”), recebemos a primeira faixa, “Ride Into The Storm”, veloz, todos os músicos soltando o braço, naquele Metal “Speedone” como gostam de chamar. Destaque para a cama de teclados e orquestrações e, obviamente, a voz do Lione, super bem encaixada com o instrumental, bem mais agressivo e confortável. E que refrão viciante! “Dead Man On Display” vem soturna, diferente, quebradona e não menos interessante – destaque total para o Bruno Valverde, meteram até um breakdown no meio da música! “Tide Of Changes Part I e II” a gente já tinha ouvido nos singles que soltaram antecipadamente e agradam em cheio, apesar do refrão diferente, que leva um tempinho pra se acostumar.
A surpresa vem com “Vida Seca”, uma semi balada, cantada em português pelo Lenine, seguida pelo Lione em inglês, com uma ambientação que vai crescendo e ganhando corpo. Vale mencionar que praticamente todas as faixas possuem uma pequena intro que antecede a música em si, achei um belo toque. Com isso chegamos em “Gods Of The World”, com letras um pouco mais incomuns se tratando de Angra, mas bem atuais e certeiras. Lembrou um pouquinho de Dream Theater, destaque para os solos emocionantes.
A faixa título tira o pé
do acelerador e serve como balanço na audição, com linhas de baixo absurdamente
lindas e inspiradas. “Faithless Sanctuary” surpreende trazendo uma brasilidade
ao som, seguida de uma quebradeira prog de deixar o queixo no chão. “Here In
The Now” é mais uma das baladas, sinceramente uma das menos interessantes do
álbum. Isso porque na sequência, com “Generation Warriors”, temos uma das
melhores composições do disco, veloz, guitarras gêmeas, aquela pegada do Angra “das
antigas” que tanto amamos. Candidata a virar clássico nos setlists
futuros da banda. E pra fechar, “Tears Of Blood” traz um climão sombrio, cheio
de piano, parecendo trilha sonora de filme. Um lindo refrão com Lione cantando
no estilo ópera acompanhado da talentosa (arroz de festa) Amanda Somerville.
Um álbum bastante coeso, balanceado, longe da zona de conforto, escancarando a nova face do Angra. Nas primeiras audições senti dificuldade de digerir o que estava sendo proposto, os refrãos não grudam logo de cara, é preciso ter paciência e atenção para entender a mensagem completa que “Cycles Of Pain” traz. Vai dividir opiniões, certamente estará em muitas listas de melhores do ano. Apenas uma certeza, é o melhor disco da fase Lione.